Á anos que me lembro de um livro que comprei e que adorei lê-lo, mas como muitas pessoas ... emprestei e perdi-lhe o rasto.... Mas nunca me esqueci do titulo... " Tudo o que devia de saber na vida aprendi no jardim-de-infância".
Ontem fui com a minha cara metade á fnac e falei-lhe desse livro, pensava que nunca mais iria encontrá-lo... verdade seja dita ... nem mesmo na fnac existia o tal livro... cheguei a casa e fiz uma busca na net... e não é que o encontrei... fiquei radiante...
Aconselho vivamente que leiam este livro... são várias crónicas que nos ensinam bastante ...
Por isso vou partilhar uma das que mais gosto:
" OS RUSSOS SÃO VÂNDALOS, indecentes, imorais, violentos,
cruéis, maldosos. A responsabilidade por todos os problemas deste
mundo é dos russos. Os russos não são como nós."
Eis um resumo bastante fiel das manchetes diárias, sobre os
russos. Mas às vezes alguma coisa escapa através da rede dos
preconceitos, um sinal pequeno, mas tão claro, verdadeiro e limpo,
que é suficiente para fazer com que se abram os portões
enferrujados da Cortina de Ferro; e conseguimos ver então, do
outro lado, não um inimigo, mas um companheiro de viagem, um
parceiro da grande Confraria da Alegria e Dor deste mundo.
Veja o caso de Nicolai Pestretsov. Conheço pouco sobre ele, não
sei por onde anda, mas, o que sei, vou contar.
Nicolai era primeiro-sargento do Exército soviético, com 36 anos.
Estava a servir em Angola, muito longe de casa, e a sua mulher
tinha viajado à África para visitá-lo.
Dia 24 de Agosto Angola foi invadida por unidades militares sul-africanas,
numa ofensiva contra a guerrilha nacionalista negra que
se refugiava ali. Na vila de N-Giva, os sul-africanos encontraram
um grupo de soldados russos. Quatro deles foram mortos e os
demais fugiram, com excepção do primeiro-sargento Pestretsov, que
caiu prisioneiro. Eis o que dizia o comunicado das tropas sul-africanas:
"O primeiro-sargento Nicolai Pestretsov recusou-se a
abandonar o corpo de sua esposa, morta durante o assalto à vila".
Foi como se os sul-africanos não acreditassem, eles mesmos, no
que havia acontecido, pois o comunicado repetia a mesma
informação: "O primeiro-sargento aproximou-se do cadáver da
esposa e se recusou a separar-se dela mesmo sabendo que estava
morta".
Coisa estranha! Por que não fugiu, por que não ficou escondido
onde estava, a salvo? O que o fez voltar? Talvez porque a amasse?
Talvez porque quisesse abraçá-la ainda uma última vez? Talvez
porque precisasse chorar? Seria possível que estivesse, de repente, a
descobrir a estupidez da guerra? Ou lastimar seu destino
ingrato? Estaria a pensar nas crianças, nas que tivessem nascido e
nas que jamais nasceriam? Poderia ter-se dado que ele, de repente,
já nem ligasse para o que pudesse lhe acontecer?
Tudo é possível, e não temos respostas para essas perguntas. Não
temos, pelo menos, respostas precisas. Mas podemos ler muita
coisa nos próprios actos do primeiro-sargento.
E lá o temos, sozinho, numa prisão sul-africana. Não é um
"russo", nem um "comunista", não é nem mesmo um "soldado" e
muito menos um "inimigo". É só um homem que amava só uma
mulher e queria estar ao lado dela só mais uma vez. Apenas isso.
Meu "escrito" é para você, Nicolai Pestretsov, onde quer que
esteja, quem quer que seja, por ter sido capaz de dar sentido, um
sentido verdadeiro e profundo, às promessas, às juras que são
sempre as mesmas, em qualquer canto do mundo; por ter dado
dignidade ao juramento que também é o mesmo em todas as
línguas do mundo – "na alegria e na dor, na riqueza e na pobreza,
na saúde e na doença, para honrá-la, amá-la e respeitá-la, até que a
morte nos separe, amém". Você manteve a fé, manteve-a alta,
luminosa. Deus o abençoe!
(Ah! Os russos são vândalos, indecentes, imorais, violentos, cruéis,
maldosos. A responsabilidade por todos os problemas deste
mundo é dos russos. Os russos não são como nós.)
Oh, sim, com certeza... "
Ontem fui com a minha cara metade á fnac e falei-lhe desse livro, pensava que nunca mais iria encontrá-lo... verdade seja dita ... nem mesmo na fnac existia o tal livro... cheguei a casa e fiz uma busca na net... e não é que o encontrei... fiquei radiante...
Aconselho vivamente que leiam este livro... são várias crónicas que nos ensinam bastante ...
Por isso vou partilhar uma das que mais gosto:
" OS RUSSOS SÃO VÂNDALOS, indecentes, imorais, violentos,
cruéis, maldosos. A responsabilidade por todos os problemas deste
mundo é dos russos. Os russos não são como nós."
Eis um resumo bastante fiel das manchetes diárias, sobre os
russos. Mas às vezes alguma coisa escapa através da rede dos
preconceitos, um sinal pequeno, mas tão claro, verdadeiro e limpo,
que é suficiente para fazer com que se abram os portões
enferrujados da Cortina de Ferro; e conseguimos ver então, do
outro lado, não um inimigo, mas um companheiro de viagem, um
parceiro da grande Confraria da Alegria e Dor deste mundo.
Veja o caso de Nicolai Pestretsov. Conheço pouco sobre ele, não
sei por onde anda, mas, o que sei, vou contar.
Nicolai era primeiro-sargento do Exército soviético, com 36 anos.
Estava a servir em Angola, muito longe de casa, e a sua mulher
tinha viajado à África para visitá-lo.
Dia 24 de Agosto Angola foi invadida por unidades militares sul-africanas,
numa ofensiva contra a guerrilha nacionalista negra que
se refugiava ali. Na vila de N-Giva, os sul-africanos encontraram
um grupo de soldados russos. Quatro deles foram mortos e os
demais fugiram, com excepção do primeiro-sargento Pestretsov, que
caiu prisioneiro. Eis o que dizia o comunicado das tropas sul-africanas:
"O primeiro-sargento Nicolai Pestretsov recusou-se a
abandonar o corpo de sua esposa, morta durante o assalto à vila".
Foi como se os sul-africanos não acreditassem, eles mesmos, no
que havia acontecido, pois o comunicado repetia a mesma
informação: "O primeiro-sargento aproximou-se do cadáver da
esposa e se recusou a separar-se dela mesmo sabendo que estava
morta".
Coisa estranha! Por que não fugiu, por que não ficou escondido
onde estava, a salvo? O que o fez voltar? Talvez porque a amasse?
Talvez porque quisesse abraçá-la ainda uma última vez? Talvez
porque precisasse chorar? Seria possível que estivesse, de repente, a
descobrir a estupidez da guerra? Ou lastimar seu destino
ingrato? Estaria a pensar nas crianças, nas que tivessem nascido e
nas que jamais nasceriam? Poderia ter-se dado que ele, de repente,
já nem ligasse para o que pudesse lhe acontecer?
Tudo é possível, e não temos respostas para essas perguntas. Não
temos, pelo menos, respostas precisas. Mas podemos ler muita
coisa nos próprios actos do primeiro-sargento.
E lá o temos, sozinho, numa prisão sul-africana. Não é um
"russo", nem um "comunista", não é nem mesmo um "soldado" e
muito menos um "inimigo". É só um homem que amava só uma
mulher e queria estar ao lado dela só mais uma vez. Apenas isso.
Meu "escrito" é para você, Nicolai Pestretsov, onde quer que
esteja, quem quer que seja, por ter sido capaz de dar sentido, um
sentido verdadeiro e profundo, às promessas, às juras que são
sempre as mesmas, em qualquer canto do mundo; por ter dado
dignidade ao juramento que também é o mesmo em todas as
línguas do mundo – "na alegria e na dor, na riqueza e na pobreza,
na saúde e na doença, para honrá-la, amá-la e respeitá-la, até que a
morte nos separe, amém". Você manteve a fé, manteve-a alta,
luminosa. Deus o abençoe!
(Ah! Os russos são vândalos, indecentes, imorais, violentos, cruéis,
maldosos. A responsabilidade por todos os problemas deste
mundo é dos russos. Os russos não são como nós.)
Oh, sim, com certeza... "